Josè Wilson Correia da Silva – Assistência Espiritual Hospitalar em Tempo de Pandemia: Apreciação de um Capelão

A caridade não procura a própria comodidade São Camilo de Lellis A humanidade sempre viveu, nas encruzilhadas da história, tempos de peste. Desde o Egito Antigo, passando pela Europa do século XIV e chegando ao mundo globalizado dos vírus apátridas, o homem experimentou diversas vezes o medo do contágio, da doença e da morte.

Nessas crises revelam-se sempre três elementos: a fragilidade da natureza humana, a vulnerabilidade das sociedades e a magnanimidade da caridade. É pela caridade que os homens são capazes de gestos fraternos transformadores, é por meio dela que entram nos leprosários e acolhem os chagados, é a força da caridade que move àqueles que abandonam a própria segurança e conforto em prol do outro, daquele que adoece e sofre. A caridade nos torna verdadeiramente humanos e nos abre caminhos de espiritualidade. E é justamente a experiência que adquiriu nessas veredas espirituais que nos relata o padre José Wilson neste breve ensaio.

Ao contar seus casos e apresentar suas apreciações, nos conduziu por um itinerário repleto de momentos luminosos e de reflexões profundas de alguém que, a exemplo do fundador de sua ordem religiosa, não se amedrontou diante do perigo para revelar aos doentes o amor incondicional de Deus. Fez-se vazio e tornou-se instrumento. Com admiração pude acompanhar pessoalmente muito do esforço intelectual, logístico, físico e espiritual que foi narrado nesta obra. Não foram raros, nos tempos de pandemia que vivemos, os dias em que tarde da noite encontrei o capelão José Wilson ainda em ronda pelos corredores com seus novos hábitos eclesiásticos: máscara, protetor de face e uniforme interno do hospital. Sem dúvida, foi uma convivência inspiradora. Da mesma forma, espero que esta leitura tenha inspirado o leitor para as possibilidades de cuidado para além do tangível e das necessidades imediatas, para além dos protocolos e medicações, para além das respostas óbvias e em direção a uma assistência em saúde mais espiritualizada e, portanto, mais humana.

Dr. Felipe Moraes T. Pereira
Oncologista Clínico pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Faculdade de Medicina da USP.
Teólogo pelo Centro Universitário Claretiano